Como iniciar um negócio de venda de bolos a partir de casa
Comecei por fazer uns “bolitos” cá para casa, mas descobri que afinal até tenho algum jeito, os meus amigos começaram a pedir, e agora os amigos dos meus amigos também querem os meus bolos.
Decidi que quero começar um negócio de venda de bolos pois afinal o feedback tem sido muito positivo, e até já sei como reagem as pessoas aos meus bolos… mas, por onde devo começar???
Será que chegou a hora de criar um pequeno negócio de venda de bolos?
E é assim que tudo começa, bem como as muitas dúvidas que começam a surgir ao longo do caminho.
Fazer bolos em casa para vender: 5 dicas para quem está a começar
1 – Entende o teu mercado, a tua concorrência e acima de tudo define o que queres para ti
Fazer bolos a partir de casa é o sonho de muita gente, poder controlar as horas de trabalho, ser dono do seu tempo e patrão de si próprio é um sonho para muitos pois não há limites para o que podemos fazer, ou assim achamos nós!
Só que não!
A realidade é que o tempo é finito e ser patrão de si próprio, sobretudo numa fase inicial, quer dizer que vamos precisar de tempo para fazer o que nos dá mais prazer, mas também para as partes menos aliciantes do projecto.
Se pudesse só fazia bolos! Passava os dias de avental a criar massas, recheios, novas combinações e novas texturas, mas a realidade é que nem o meu mercado teria capacidade para absorver tanta experimentação, nem o meu negócio conseguiria sobreviver sem que as outras áreas do negócio (bem menos divertidas) estejam devidamente cuidadas e arrumadas.
Então para manter um equilíbrio entre o ideal e o possível, vamos precisar de entender o que o mercado procura, o quero fazer para dar resposta a essa necessidade do mercado e quais os nossos pontos fortes!
É fundamental conhecer o mercado para quem vamos trabalhar. Quais os bolos, quais os sabores, quais os estilos mais procurados onde me vou estabelecer?
O que faz a minha concorrência?
O que quero eu trazer para o mercado que me diferencie do que já existe?
Com uma ideia clara das necessidades do mercado, da resposta que já existe por parte da concorrência e daquilo que quero para mim, vou definir o meu produto, torna-lo especial e criar um menu claro e organizado e tirar o máximo de rentabilidade daí.
A ideia é simples: Arranja um bom mas limitado, cardápio, certifica-te que tens uma boa oferta no que respeita a sabores, identifica os teus pontos fortes e trabalha nessa direcção. Aposta na diferença, pois é ela que é a chave do sucesso e oferece algo que te diferencie do resto do mercado.
2 – Faz contas! As tuas contas e torna a venda de bolos num negócio lucrativo e interessante
Por muito relaxante que possa ser fazer bolos, ou por muito grande que seja a nossa paixão, a realidade é que sem dinheiro, não há negócio. Sem retorno financeiro, com o passar do tempo começas a sentir que não valorizam o teu trabalho e a desmotivação aparece. É o inicio do fim!
A boa noticia é que não tem de ser assim e que está nas tuas mãos iniciar (ou reiniciar) rumo à satisfação no trabalho, à valorização e sucesso financeiro.
Dar um preço é muito mais do que somar o custo dos ingredientes e multiplicar por três ou olhar para a concorrência e fazer igual.
Cliente que vem por preço, vai por preço! E vai sempre haver alguém que faz mais barato ou porque não faz contas, ou porque trabalha com produtos mais económicos, ou porque não tem (ou não considera) as despesas todas e esta lista pode ser longa.
Quando vendes um bolo no seu preço devem estar todos os custos que tens com ele:
Custos Fixos: são todos os custos que independentemente do número de vendas, um negócio tem para pagar (seguros, seg. social, renda, telefones, electricidade, etc)
Custos Variáveis: são custos que só existem se existirem encomendas (açúcar, farinha, caixas, bases, pratos, etc)
Mão de Obra: é o valor pago a quem faz o serviço, sim! és mesmo tu 🙂
Lucro: é o valor que fica depois de tudo feito e que vai ditar o sucesso financeiro do teu negócio.
Vou deixar-te um exemplo de como aplicar estes cálculos numa encomenda de 10 cupcakes de baunilha, recheados com coulis de framboesa, cobertos com buttercream de framboesa e decorados com flores e borboletas em pasta de açúcar.
O custo fixo que tenho por produção de uma dose é de 2,00€, já os custos variáveis são de 5,84€, demorei uma hora (tempo activo) a confeccionar e decorar o que representa um valor de mão de obra de 10€
Tudo isto somado dá um total de 17,84€ = 10€ + 5,84€ + 2€
Cada cupcake tem um custo de 1,78€ e se cobrar só este valor, estou só a pagar os custos que este projecto teve, não estou a ganhar dinheiro nenhum, e nós queremos, precisamos de ganhar esse dinheiro.
Assim vamos aplicar uma margem de lucro de 40% o que dá um resultado final de 24,97€ o que deixa para o meu negócio com um lucro de 7,13€ o que é bem simpático numa encomenda pequena. (as margens de lucro podem variar e dependem de muitos factores, mas isso será assunto para outro dia)
Conquista os teus clientes pela diferença e jamais pelo preço. É pelo valor que tem o teu produto que vais conseguir ganhar à tua concorrência.
Se te sentes muito perdid@ com tudo isto, inscreve-te na próxima edição da mentoria Como Criar Um Negócio de Bolos, onde junt@s percorremos todo este caminho.
3 – Organiza-te
Organização numa cozinha é tudo! E poderia escrever tanto sobre este tema, mas por hoje vou ficar pelo que acho que é o mais importante:
Não tens de dizer que sim a tudo. E sim, o teu primeiro não, vai ter tanto de difícil como de libertador… vais perceber nesse instante que o mundo continua a rolar tal e qual e que se há trabalhos com os quais não te identificas, ou que sentes que não tens capacidade para aceitar, ou ainda não sabes como se faz e estás sem tempo para testes, ou não tens e não compensa ter o equipamento para aceitar essa encomenda, que está tudo bem em dizer que não.
Foca-te numa direcção. A tua direcção. Este é um trabalho muitas vezes solitário, é um one man show! Quem atende o cliente, cria, desenvolve, faz compras, produz, embala, entrega e limpa a casa no final.
Quando só temos uma encomenda por semana, temos tempo para tudo.
Com o crescimento chegam os desafios e querer conseguir dominar todas as técnicas, todas as tendências, apresentar constantemente novas massas e recheios (que significa passar muito tempo em testes), estar em todas as redes sociais e responder a todos os comentários, dúvidas, questões e pedidos de orçamento que nos chegam imediatamente é estar em constante esforço, o que conduz a um enorme desgaste.
Foca te nos teus melhores produtos e torna te muito bom a vende-los! Foca-te numa rede social e arranja um período de tempo por dia para postar as fotos do teu trabalho e responder a todas as questões que vão surgindo.
É claro que deves estar atenta ao que se passa à tua volta, mas escuta o teu mercado e o que queres para ti e corre só atrás do que te acrescentar valor. Antes de adicionares mais tarefas à tua to do list, responde ao teu porquê: porque é que quero fazer isto? Preciso? Que valor vai acrescentar à minha oferta? aos meus clientes? ao meu produto?
Fazer formação ajuda imenso porque te dá ferramentas, já testadas e provadas, num muito curto espaço de tempo, que já sabemos ser o nosso bem mais valioso.
(Caso andes muito distraíd@ ou ocupad@ e ainda não te tenhas apercebido, nós temos uma série de cursos disponíveis para ti na escola de pastelaria online. Conhece-os aqui: cursos pastelaria.
Organiza o teu dia de trabalho. Investe 30 minutos do teu dia a organizar e fazer uma lista ou mapa de trabalho. Lista todas as tarefas que tens para fazer para cumprires com as encomendas, separa todas as receitas que vais precisar, todos os pratos, bases, caixas, fitas e velas. Certifica te que tens todos os ingredientes e equipamentos necessários à mão e parte para a confecção com uma muito clara noção do que te espera.
Organização na cozinha é tudo! (nunca é demais repetir)
Saber onde quero chegar, onde estou nesse caminho e o que ainda me falta fazer para lá chegar, é ter uma visão muito clara do que me espera e estar preparada para qualquer percalço que surja pelo meio, e eles vão surgir. Estar preparada é o que garante que faço o resto do caminho com a calma e confiança que preciso para um ter bom desempenho.
Adianta tudo o que puderes nos dias com menos trabalho. Vais precisar de coulis, compotas, curds, modelagens, flores, peças decorativas? Assim que puderes faz todas essas tarefas e liberta o esse tempo.
Isto vai revelar-se precioso pois não só ficas com mais tempo para algum contratempo que surja, como podes ficar disponível para aceitar mais uma encomenda, ou se nada disto acontecer, ficas despachad@ mais cedo! E o melhor de tudo é que consegues trabalhar mais tranquilamente, porque sabes que tens uma parte, e que por sinal é a parte que consome tempo, já pronta.
Torna o não deixes para amanhã, o que podes fazer hoje num hábito, numa rotina.
4 – Compra equipamento, utensilios e ingredientes de forma inteligente
Há quem goste de malas, sapatos, telemóveis, carros; nós gostamos de formas, cortadores, gadgets para a cozinha! E que tentador isto pode ser! Sobretudo nas formas, cortadores, moldes de silicone e todas aquelas coleções de coisas giras (e absolutamente necessárias 😅), que saem todos os anos!
Faz compras inteligentes, ou estás a desperdiciar um monte de dinheiro.
Quando vires aquela peça nova que saiu, pergunta a ti própria onde e quando a vais utilizar e que retorno de investimento ela vai ter e mantém te fiel ao resultado da resposta.
Por muito tentador que possa ser.
Se comprares tudo aquilo que te aparece e que achas giro, daqui por uns meses tens um monte de espaço ocupado com equipamento e utensílios que vais achar inúteis porque não lhes dás utilidade e vais sentir que é dinheiro que saiu do teu trabalho, parado dentro dum armário ou duma caixa.
Melhora o meu trabalho? Reduz tempo na produção? Origina um novo e vendável produto? Aumenta a capacidade de produção? Tem qualidade, é duradouro? Então é útil e um bom investimento, caso contrário, deixa ir.
Escolhe os melhores ingredientes que possas ter e isto não quer dizer que têm de ser da marca x ou y. Escolhe o melhor que possas ter, que te dê um bom resultado e que os teus clientes gostem e possam pagar.
Aproveita todas as campanhas possíveis para conseguires melhores preços respeitando sempre a validade dos produtos. Há produtos que poderás comprar com mais segurança, como o açúcar, farinha chocolate, etc etc e depois há produtos que não podes comprar para armazenar como por exemplo os ovos.
Todo o dinheiro que conseguires poupar nas compras vai originar uma margem de lucro maior.
Pratos, bases, velas e caixas, são um exemplo perfeito de onde consegues poupar muito dinheiro, ou se preferires baixar os custos variáveis. Sabendo o que mais vendes e os tamanhos de bolos que mais vendes, vais poder comprar em lote e se nunca o fizeste prepara-te para uma grande surpresa pois podes ver os preços deste tipo de artigos cair para cerca de um terço do preço praticado avulso.
Um jogo mental que ainda hoje me ajuda na tomada de decisão na hora de gastar dinheiro, é traduzir o valor daquilo que quero comprar em horas de trabalho e perguntar ao meu eu interior: vale isto estas horas da minha vida?
5 – Equilibra a balança da vida
Fazer bolos para vender é um trabalho feliz. Um bolo é na maioria das vezes para uma celebração, para comemorar um momento feliz. Fazer o bolo para esse momento é fazer um pouco parte dele, é deixar a nossa marca, o nosso carimbo nesse instante que um dia será uma recordação na vida de quem dele fez parte.
O outro lado de quem tem um negócio de venda de bolos e faz desta a sua profissão doce e feliz que não se vê, são as horas que passamos a trabalhar, que podem ser muitas, tornando este um trabalho solitário. Além disso, as festas tendem a acontecer quando a maioria está disponível o que quer dizer que nós trabalhamos quando todos os outros estão de folga. Incluindo a nossa família.
Houve um período da minha vida em que sentia que só trabalhava e quando estava um pouco mais liberta de encomendas, não tinha ninguém em casa e ainda assim, tinha compras para fazer, atelier para arrumar, contas para por em dia, preparar os próximos dias… o medo de perder encomendas e clientes fazia com que dissesse que sim a tudo e trabalhasse muitas, muitas horas. Ainda não tinha aprendido a dizer que não e os excessos, sejam eles de que natureza forem, trazem com eles o desequilíbrio, a confusão, o desgaste.
Sofremos nós e os nossos à nossa volta, que por muito que entendam e aceitem sofrem também eles porque estamos ausentes em muitos dos momentos em que nos queriam por perto.
Sei que este equilíbrio é muito difícil porque o vivi e se a Sónia de hoje pudesse dar um conselho à Sónia que há 20 anos atrás começou a vender bolos, dir-lhe-ía:
“O equilíbrio entre o tempo que passas a trabalhar, o tempo de qualidade que passas com a tua família, e o espaço que tanto precisas para ti é o segredo para fazer tudo funcionar. Lê e interioriza tudo o que está escrito aqui acima.
Aceita que ninguém é insubstituível, pede ajuda quando o trabalho apertar, foca-te nos bons trabalhos e deixa ir todos aqueles que aceitas só para não dizeres que não e que no final de contas não te acrescentam nada.
Trata-te como tratas aqueles que trabalham para ti. Respeita o teu tempo da mesma forma.
Tu és capaz de tanto! E no final, vai tudo correr bem!”
A Sónia de hoje sabe e subscreve totalmente as sábias palavras da Maya Angelou: you do better, when you know better (quando sabemos mais, fazemos melhor) e se há 20 anos atrás era assim que sabia fazer, todos estes dias pelo meio foram (são) uma escola e se puderes: aprende com os erros e experiências dos outros. Encurta os erros na tua viagem para que ela seja o mais feliz possível, para que todos os dias te possas levantar chei@ de força e vontade para o novo dia que estás preste a viver!
Está nas tuas mãos fazer desta uma doce caminhada 💝
Beijinho doce e bons bolos 🧁 💙
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